domingo, 20 de fevereiro de 2011

Aparecimento da imagem do Bom Jesus

Altar da Basílica do Bom Jesus de Iguape
Corria o ano de 1647, no mês de fevereiro, Pernambuco vivia sobre o domínio dos holandeses. Segundo documentos, a imagem do Senhor Bom Jesus vinha em um navio português. Tinha saído de Portugal e rumava para o Brasil, àquela altura dividido entre holandeses, franceses e portugueses. Ao se aproximarem de Pernambuco, o navio foi abordado pelos holandeses. Com receio de ter seus objetos religiosos profanados, a tripulação achou por bem lançá-los ao mar. Francisco Mesquita, morador da praia da Juréia, mandou dois índios para a Vila Nossa Senhora da Conceição de Itanhaém. Estes, ao passarem pela praia do Una, acharam junto ao rio Paçaúna a mesma imagem atirada ao mar pelo navio português em Pernambuco.





Quadro do encontro da imagem do Senhor Bom Jesus de Iguape, pintado em 1918, por Trajano Vaz, pintor iguapenseQuadro do encontro da imagem do Senhor Bom Jesus de Iguape, pintado em 1918, por Trajano Vaz, pintor iguapense

Apparecimento da IMAGEM do Bom Jesus

"Sendo no anno de mil seiscentos e quarenta e sete, mandados por dous Indios Buçaes, e sem conhecimento, e ignorantes da fé, por Francisco de Mesquita, morador na praia da Jurêa, para a Villa da Conceição, a seus particulares, acharão na Praia da Yuna, junto ao rio chamado Passauna, rolando um vulto com as superfluidades do mar e que vulgarmente chamão resacas, e reconhecendo-o levarão para o limite da Praia, onde fazendo uma cova o puserão de pé com o rosto para o nascente e assim o deixarão com um caixão que divisarão ser de cêra do Reino, e umas botijas de azeite doce, cujo numero não pude saber de certo, as quaes cousas se acharão desviadas um pouco espaço do dito vulto, e voltando os ditos Indios d'ahli a dias acharão o dito vulto que não conheciam, no mesmo lugar, mas com o rosto virado para o poente, no que fizerão grande reparo pelo terem deixado para o nascente, e não acharem vestigios de que pessoa humana o podesse virar; e chegados que forão ao sitio de seu administrador contando o caso, que logo se soube pelos vizinhos, resolverão que Jorge Serrano e sua mulher Anna de Góes, e seu filho Jorge Serrano e sua cunhada Cecília de Góes, a ir vêr o narrado pelos Indios, e chegados, acharão a Santa Imagem na forma em que os Indios a tinhão exposto, e tirando-a metterão numa rede e a trouxerão alternativamente, os dous homens e as duas mulheres até o pé do monte a que chamão de Jurêa, onde os alcançou a gente da villa da Conceição, que vinhão ao mesmo effeito pela informação dos Indios, a qual gente da Conceição ajudarão aos quatro o conducção da dita Santa Imagem, até ao mais alto do dito monte da Jurêa, d'onde os dous homens e as duas mulheres, com a mesma alternativa, a transportarão até a barra do rio chamado Ribeira de Iguape, onde forão os moradores da Villa de Iguape buscar a Santa Imagem, e trazendo-a com muito grande acatamento, puzerão no rio a que chamão hoje com muito grande alegria a Fonte do Senhor, para lhe tirar o salitre e ser encarnada de novo, o que conseguirão depois de segundo encarne, pela imperfeição com que ficava, e conseguindo o ornato, a collocarão nesta Igreja da Senhora das Neves, em que está, aos dous dias do mez de Novembro de mil seiscentos e quarenta e sete, conforme achei no assento de um curioso, tirado de outro mais antigo; tambem achei informação de que era tradicção, que a Santa Imagem do Senhor Bom Jesus, vinha do reino de Portugal, embarcada para Pernambuco, e que encontrando o navio outro de inimigos infieis, lançarão os do navio portuguez a Santa Imagem ao mar, para não ser tomada com o que se achou junto a ella de cêra e azeite; e que no mesmo tempo em que foi achada a dita Santa Imagem na Praia, foram vistas pelo Padre Manoel Gomes, Vigario da Ilha de São Sebastião, passar pelo mar da parte do Norte para o Sul, seis luzes uma noite, cuja luzerna illuminava grande circumferencia, a qual noticia dira o dito Vigario ao Reverendo Padre Antonio da Cruz, religioso da Companhia de jesus, e para que venha a noticia de todos, e estes louvem ao Senhor como convem, por tão Soberano favor, esperando a sua misericordia, que foi servido que se cumprisse a prophecia: Orietur vobis Sol Istitiae, se verifiquem tambem a subsequente Et Sanitas in penis ejus. Curando nossas almas do contagio da culpa, dando-nos o premio aos escolhidos promettido, mandei escrever esta informação, que mando ao reverendo Vigario e seus successores a publiquem e leião no dia da festa do Senhor, no tempo em que costumão lêr as esmolas do anno, o que comprirão sob pena da Santa obediencia. dado em Visita, sob meu signal e sello, que perante mim serve nesta Villa de Nossa Senhora das Neves, de Iguape, aos vinte e dous dias do mez de Outubro de mil setecentos e trinta. E eu o licenciado Padre Manoel do Valle Palhano. Secretario da Visita o fiz e escrevi.—Christovão da Costa e Oliveira".

Nenhum comentário:

Postar um comentário